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Semana Acadêmica do CCSE abre calendário de novembro

O Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), iniciou na tarde dessa segunda-feira, 4 de novembro, a sua XXIV Semana Acadêmica, com a temática “Escola, Universidade e Futuro: agir, reagir e construir um ensino público de qualidade no Brasil”. O evento visa continuar os debates das edições anteriores e, além disso, levantar questionamentos como “Qual será o papel do professor nessa escola do futuro? Como as novas ferramentas de comunicação podem ajudar ou atrapalhar essa educação?”. Com um público de aproximadamente 1.000 inscritos, a Semana terá mesas redondas, conferências, palestras, atividades culturais e apresentações de painéis que comporão as manhãs e tardes dos quatro dias de práticas acadêmicas. Além de contar com trabalhos inéditos, mini-cursos e oficinas que mobilizarão todo o campus.

A Semana Acadêmica do CCSE começou com uma mesa oficial formada pela professora Ana da Conceição Oliveira (Pró-reitora de graduação), João Paulo Passo (Vice-diretor do CCSE),  Neuzi Pardosa (representante da Pró-reitoria de Extensão) e Jairo de Jesus Nascimento Silva (ex-vice-diretor do CCSE). Nas suas falas, os docentes e a representante da Proex ressaltaram a importância da educação em movimento para a construção de um futuro consciente e com participação estudantil. Ademais, a presença da Uepa em diversas regiões do estado foi um dos tópicos abordados nesse primeiro momento. 

Cerimônia Oficial de Abertura

Jairo de Jesus do Nascimento, professor da Uepa, abriu a primeira mesa e disse estar lisonjeado por representar a todos os demais mestres do Centro de Ciências Sociais e Educação e fez alusão à comemoração de um quarto de século de existência do CCSE. “Essa Semana Acadêmica marca a história desse Centro, porque nós estamos também comemorando os 25 anos. E que possamos enxergar esse tempo de colaboração como a abertura em meio às dificuldades que vivemos hoje”, declarou.  

Durante a cerimônia de abertura, o professor João Paulo Passos anunciou a mudança na Licenciatura Plena em Ciências Naturais, da qual já foi coordenador, substituída pelos respectivos cursos: Licenciatura em Ciência Biológicas, Licenciatura em Física e Licenciatura em Química. 

A professora Ana da Conceição Oliveira, do Prograd, manteve o tom de alerta em seu discurso e lembrou do patrono da educação brasileira Paulo Freire. “É imperioso fazer essa relação da universidade com a sociedade. Eu gosto muito de lembrar de Paulo Freire quando diz, no seu livro “Educação como prática da liberdade”, que se alguém defende uma posição democrática, progressista, logo, igualmente, quer a democratização da organização programática dos conteúdos, currículo e ensino. E não tenho dúvida que esses discursos que, hoje, estão colocados, do neoliberal, não terão forças para apagar a história dos movimentos sociais”.

Após isso, o debate girou em torno do tema “O Enem, a reforma do Ensino Médio e suas implicações sobre a educação básica e a educação superior”

Educação e Enem

Três professores — George Anderson Macêdo Castro, Yussef Xavier Ayan e Jairo do Nascimento — defenderam pontos de vistas diferentes, que analisaram desde a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e perpassaram pela reformulação do exame, escolha da banca de idealizadores da prova e seguiram até resultados obtidos pelo Enem.

No decorrer do debate, foi abordado o cenário em que o Exame Nacional do Ensino Médio esteve inserido nos seus dez primeiros anos, de 1998 a 2008, e como as mudanças gradativas chegaram a partir do ano seguinte. Concomitantemente, falou-se da transformação que houve no ingresso nas universidade. E do grau de maturidade que o exame atingiu, no qual os pontos positivos são mais aparentes que os negativos. 

Para George Castro, professor da Seduc, ex-responsável pela Rede de Ensino Público do Estado do Pará e ex-supervisor estadual do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, acredita que há vantagens e desvantagens que acompanharam o Enem. “O Enem hoje traz muitas oportunidades por meio do Sisu, por exemplo, um jovem podem tentar uma vaga para qualquer lugar do Brasil desde que tenha pontuação para isso. Trouxemos vantagem, acesso à universidade. Mas,  a reboque disso, houve o problema de indução de currículo que é extremamente maléfico, porque com isso deixamos de ter os temas regionais”, disse Castro.

E continuou a avaliação “A visão da escola no ensino médio continua sendo aquela que o currículo tem que ser imposto pelo exame. O que não precisa ser verdade”.

De acordo com o professor Yussef Ayan, que possui formação na área de língua espanhola e leciona há 22 anos, o atual currículo é um grande agente devastador na aplicação do espanhol no Enem. Além de não ver uma participação eficaz de educadores e sociedade civil. “Essa base altamente excludente, verticalizada, na minha opinião, não há chancela da sociedade e as universidades não participam desse debate como deveria ser”, falou.

Para ele, a crítica e análises de exames sérios e de grande porte, com a estrutura do Exame Nacional do Ensino Médio, são enganosas quando tratadas como meras folhas que não possuem serventia. “Muitas pessoas ainda continuam com a seguinte falácia de que uma folha não mede a capacidade de ninguém e de que a avaliação não serve para nada, vamos colocar um parêntese, quando não se tem os instrumentos adequados”, apontou o professor Yussef. 

Já o docente Jairo do Nascimento, que participou de diversos treinamentos realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contou que a idealização da prova passa pelo escrutínio de professores de universidades e institutos federais nas primeiras edições. E que, após 2009, havia muitos professores da região Norte que participaram das primeiras preparações, mas que com o tempo a participação ficou concentrada nos profissionais do Sudeste. “Nos primeiros treinamentos dados pelo Inep, tinham vários professores da região norte. Depois, quando foi passando o processo, reduziu. Numa equipe de ciências humanas de oito pareceristas da prova do Enem, só havia um que não era do Sudeste”, comentou.

E levantou o questionamento “Como é que nós queremos fazer com que a Amazônia seja Brasil, se não nos fazemos representar? Esse é um caminho que deve ser buscado e pensando”.

Após os primeiros comentários do integrantes da mesa, foi aberto espaço para os ouvintes realizarem perguntas para os professores. Em seguida, o primeiro dia foi encerrado com as considerações finais dos debatedores. A Semana segue até o dia 8 com mesas que abordam diversos temas acerca da educação.

Texto: Wesley Lima/ Ascom CCSE.

Fotos: Lays Lago/ Ascom CCSE.