Formação de Professores Populares reúne mais de 180 entidades
Levar educação, informação e consciência para os cantos mais remotos do Estado será a missão dos 160 educadores que iniciaram sua jornada na primeira turma do curso de Formação de Professores Populares do Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP) do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Entretanto, um dos objetivos do curso vai além: articular e empoderar os movimentos utilizando a educação como ferramenta de conquista dos direitos, conforme determina a abordagem freireana.
Sob o tema “Educação popular, dilemas da democracia brasileira e resistência”, a ideia inicial era de ofertar 20 vagas, direcionadas para educadores sociais, lideranças comunitárias, estudantes da educação e militantes de movimentos sociais, culturais e artísticos. Entretanto, a procura surpreendeu os idealizadores do curso. “Tivemos 450 inscrições e percebemos que existia muita demanda reprimida. Decidimos então fazer algumas adaptações e conseguimos selecionar 160 educadores, ligados a mais de 180 entidades”, contou o professor João Colares.
Durante as 100 horas de curso, os profissionais da educação serão qualificados com uma base teórica que lhes auxiliará no desenvolvimento de atividades nas comunidades onde atuam. “Queremos aprofundar o conhecimento técnico-teórico deles, de formar que esteja, aptos a planejar melhor suas ações educativas e possam também, durante o curso, se conectar e articular com outras comunidades”, resumiu Colares.
Buscando equilibrar teoria e prática, a formação será dividida em módulos presenciais, atividades vivenciais em comunidades e movimentos sociais e trabalho sistematizador de experiência. No módulo presencial, serão estudado conteúdos pertinentes à Sociologia, Pedagogia, Filosofia e História. Para a aluna Helena Ferreira, que leciona na Escola Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), o curso foi uma ideia muito bem-vinda.
“A temática me chamou muito a atenção, pois já havia participado de cursos de educação popular, mas nunca em nível universitário. Acredito que vou aprofundar aqui o que já trabalhamos nas áreas rurais e poderemos não apenas ampliar o foco formativo, como empoderar nossos alunos com conhecimento”, contou a aluna. Há 12 anos Helena atua junto aos trabalhadores rurais e já percebe uma mudança de atitude no campo. “A participação das pessoas cresceu, principalmente entre as mulheres”, adicionou.
Através do treinamento, o professores do Nep irão exercitar a educação transformadora de forma coletiva e fomentar a reflexão sobre a sociedade brasileira de forma crítica e construtiva. Na opinião da coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGED), Ivanilde Apoluceno, as situações de retrocesso pelas quais o país vem passando desperta as pessoas para a defesa de seus direitos. “As comunidades percebem a importância da educação e passam a querer debater e buscar informações. Nossa expectativa é que os alunos saiam deste curso com uma boa fundação teórica e que tenha coerência com a prática“, avaliou a docente, que ministra uma das disciplinas na formação.
Durante a solenidade de abertura do curso, a professora Zanete Gusmão, uma das idealizadoras da formação, puxou uma ciranda com os participantes. Ela revelou ainda os planos de criar um portal mapeando as entidades e movimentos sociais do Pará. “Além da qualificação dos professores, queremos também dar visibilidade para estes movimentos. Queremos que eles se conheçam, interajam e articulem ideias. Para ampliar isso, nossa intenção é mapear e criar um site onde todos os movimentos estejam acessíveis para o Brasil e para o mundo”, afirmou Gusmão.
O diretor do Centro, Anderson Maia participou da abertura e reafirmou seu apoio à iniciativa encabeçada pelo Nep. “O Universidade não é do reitor ou do diretor, mas de todos nós. Abraçamos o projeto criado pelos professores e estamos aqui para o que vocês precisarem”, garantiu.
A iniciativa de realização do projeto é do Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (Nep) e a Cátedra Paulo Freire da Amazônia, ambos da Uepa, em articulação com a Linha de Pesquisa “Culturas, Etnias e identidade” do Grupo de Pesquisa “Amazônia: História, Cultura e identidades” (Uepa), assim como o Grupo de Pesquisa Educação, Trabalho, Tecnologia, Humanidades e Organização Social (ETTHOS/IFPA), o Grupo de Estudos Surdos da Amazônia Tocantina (GESAT/UFPA) e o Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL).